sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Recomeço?

Ter idéias é tão fácil, mas escrever é difícil. Muito se perde entre a mente e os dedos...existe também a falta de habilidade e a grande timidez...mas como dizia Clarice sou uma "tímida ousada".
Um amigo me renovou a vontade de continuar esse blog, talvez isso passe amanhã, mas hoje (pelo menos hoje) posso me fantasiar de escritora. Devido não estar esperando por essa vontade não tenho um tema pra escrever, então, como meus leitores são imaginários, posso iludir-me que têm interesse em saber quem eu sou.
Gostaria de falar o que se passa dentro de mim, entretanto é difícil falar pra mim mesma. É complicado adimitir o que sentimos e mais difícil ainda o que não sentimos.
Termino o que mal comecei com um poema de Ápio Campos:

"Quantas coisas que eu quis não pude tê-las:
talvez quis mais do querer devia.
o vento e o mar eu quis, e céus e estrelas,
e inditoso em não ter, mais eu queria.

Demais quis eu, querendo noite e dia,
pelos querentes desvarios e pelas
queridas ambições, ávido eu cria
querer-viver em linhas paralelas.

Na sede de querer ver o invisível,
na fome de poder ter o impossível,
na ebriez de iludir o que me ilude,

Sei que nesta querência me destroço,
pois se, vivendo, mais não querer não posso,
morrerei por querer mais do que pude."

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Perdição

Não se percam!
Sim...se der pra entender fixem bem a frase NÃO SE PERCAM!!! Porque no final só temos a nós mesmos. Só podemos contar conosco. Não pensem que seja pessimismo, não o é. É uma verdade sublime, talvez o grande objetivo para o qual a vida nos empurra. O mais sábio, o mais otimista, o mais feliz e o mais bobo sabem o valor de terem a si mesmos.
Cada pessoa é um indivíduo singular flutuando em um universo, prestem atenção: UNIverso. Somos serem semelhantes fisicamente talvez, mas únicos em toda a nossa extensão mental-psicológica-emocional-racional. Ú-N-I-C-O-S. Por isso mesmo não podemos perder nossa individualidade, precipuamente, a nossa identidade (excluo desse modo algum pensamento egoístico que a individualidade possa gerar) já que estamos mergulhados nesse universo (as vezes me sinto como em um caldeirão atulhada de pessoas ao meu redor, claustrofóbica mesmo...e tenho medo de perder a mim e não o que fui, sou ou serei).
Identidade são a característica que faz você gostar de você (me espanto como consegui definir identidade tão simplesmente). E isso é fundamental.
Alguém pode estar pensando ser isso papo de pessoa amargurada. Não extermino essa possibilidade (tenho que exercitar a tentativa de encontro do equilíbrio entre tantos pensamentos diferentes)....mas durante algumas abstrações em que acho que vislumbro o caminho adiante vejo que temos de contar somente conosco, o que não significa esquecer e acinzentar os sentidos para com os outros human beings. As pessoas são ainda hoje, e desejo que sejam sempre, as minhas inspiradoras de vida, elas são o meu Deus, elas me dão o sopro da vida. Vejam bem, usei a palavra PESSOAS, a população, a massa, a sociedade me amedrontam, minimizam e animalizam, mas isso é assunto para outra postagem.
O que tento desenhar nesse texto é a necessidade de aprendermos que só temos a nós, que o fundo do poço é quando não temos mais a nós mesmos.
Outra coisa: não confundão ter-se com solidão! Ao nos termos estamos mais completos do que nunca!!!!

Cordiais saudações

Mi

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

L'amour...

Ouço tanto em filmes que o amor só é grande se for impossível. Seria grande por vir de outras vidas, outras dimensões ou mesmo pela ancestralidade dos que se amam!? Ou apenas grande pela sua não conclusão? Pois se não foi concluido existe uma potencialidade de amor-sem-fim. Primeiramente, pode-se ter alguma conclusão? O amor se ama a dois, a três, a quatro...ou o amor é só, se encerra em si, é só seu, do amor??? Aaaaaaaaaaah (um grito que sempre sufoco). Nunca acreditei em amores impossíveis. Nunca cogitei a possibilidade de não realização. O amor é imponderável, não é classificável, não é ao menos discutível. O amor agrupa todos os sentimentos bons e ruins. Não existe simplicidade no amor. Existe resignação, existe satisfação, existe mágoa, existe felicidade, existe o que queremos que exista. Ele se faz de nós, da nossa projeção...talvez seja assim mesmo...o amor é do amor e de ninguém mais. Tem alma e quase corpo, chega a ser palpável, mas volátio. Nasce de nós, mas não se limita ao criador, crescem asas.
Quisera eu ser tão livre. Por isso ele se me apresenta tão impiedoso na minha pequenice.
A minha definição do amor depende do amor.
Tantas contradições...eu apenas não cheguei lá...ainda!

Cordiais saudações

Mi

domingo, 4 de outubro de 2009

O melhor amor

Uma vez ouvi alguém dizer: "O melhor amor é aquele que provoca em nós os melhores sentimentos". Isto já tem mais de trinta anos, mas a frase ficou grudadinha na memória.
Retomo-a agora. É uma frase intrigante. Primeiro porque instila a idéia de que existe um "melhor amor". Se assim é, então deve existir também um "pior amor". Isto desestabiliza a idéia de que o amor é sempre uma coisa una e indivisível, que é em si sempre algo sublime, fora de nós, e que certos amantes é que não sabem como lidar com ele.

Ocorreu-me de novo aquela frase, porque alguém (há sempre alguém nos dando frases de presente), numa conversa banal, disse que fulano era especialista em murchar mulheres. Havia casado umas três vezes, e o que eram namoradas viçosas e apetecíveis transformaram-se em cinzas e apagadas matronas olhando a vida como um trem que se afastasse deixando-as murchas na estação.

Tem gente, portanto, que tem DNA de sanguessuga. Crava o dente na alma do outro e a esvazia. No entanto, a convivência amorosa deveria trazer vida, alegria, comunicabilidade, enfim, despertar em cada um o que cada um de melhor tem.

Em Belo Horizonte houve uma miss Brasil esfuziantemente linda, que casou com um empresário e obnubilou. É essa a palavra que me ocorre, e - como dizia o mestre Aurélio - a gente tem que dar oportunidade às palavras. A moça enevoou-se, apagou-se, sumiu do mapa, sequestrada na tristeza. Obnubilou-se.

Alguém vai dizer: "isto também ocorre do lado feminino". E eu não sei? Já não vimos aquele filme com a Marlene Dietrich, O anjo azul, e, que a "mulher fatal", como uma aranha no cio, uma gafanhota perversa, vai destruindo o indefeso e apaixonado velho professor?

Picasso foi um grande, imenso exemplo de destruidor de mulheres. Isto pode ser revisto naquele filme tirado do livro que uma de suas ex-mulheres escreveu. Aliás, se acharem suspeitos os depoimentos expressos pela vida de suas sete esposas oficiais, vasta considerar a frase que Paul Éluard - poeta francês contemporâneo do pintor - certa vez disse depois de fazer um exame da caligrafia daquele minotauro amoroso: "Picasso ama intensamente, mas ele destrói o que ama".

Portanto, se há um "melhor amor" e um "pior amor", há amor que mata e amor que vivifica. Por isto, alguém pode indagar: "Por que há gente que fica presa ao 'pior amor'? Por que sofre insônias? Por que fica grudada no telefone que não toca? Por que continua dando presentes e recebendo rejeição de volta? Por que tolera certas humilhações públicas e íntimas?"

É que nem sempre se pode sair de um pântano, de areia movediça, sem agarrar-se a um galho, corda ou outro tipo de socorro. E as neuroses são como o cigarro. O fumante, mesmo sabendo que aquele vício mata, nem sempre consegue se libertar. E assim como que já deixou a bebida sabe que não se deve tomar um trago nem por brincadeira, quem já sofreu burramente por causa de um amor ruim deve precaver-se.

O melhor amor é aquele que desperta em nós os nossos melhores sentimentos. Aí, então, nossa pele remoça, os olhos brilham e somos capazes de atravessar os anos numa fecundante aura.


Affonso Romano de Sant'Ana

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Até parece....

"Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos, como sabê-lo?" (Vínicius de Morais)
Vamos lá, uma situação hipotética.
Digamos que eu tivesse muito, muito, muito dinheiro e um filho meu chegasse a mim com a idéia e argumentação que não quer trabalhar, meu dinheiro é mais do que suficiente para não só sobreviver e sim viver muito bem com todos os confortos e regalias desejadas e que por isso ia aproveitar tudo o que o mundo oferece de prazeiroso (com algumas responsabilidades, hipoteticamente!) iria se tonar um bon vivant.
Eu pensaria muito a respeito e talvez chegasse a conclusão de que é verdade, de que posso proporcionar uma vida plena de sabores a ele e sim, permitiria....
Mas será que ele tem o discernimento necessário para saber realmente no que está entrando de cabeça e talvez sem volta????
Quando somos jovens temos energia, coragem e principalmente vontade de fazer anything. Entretanto, será que mais adiante ele não sentiria vontade de trabalhar, de produzir algo que posso dizer "Fui eu quem fez isso" e ter esse imenso prazer de olhar algo construido por si, sentir-se útil?
Ou será apenas que por julgarmos os jovens tão cheios de utopismos eles não tenham capacidade suficente para decidir que tipo de vida ter e podem até se arrepender no futuro próximo ou distante.
Por esses pensamentos será que não os moldamos à nossa imagem e semelhança tornando-os tão ordinários quanto nós...tão necessitados de ditações, coisas e vivências ordinárias. Projetamos neles o que achamos ser melhor para nós...ou seja, o que é dito melhor para a considerada sociedade normal.
Se nos insentássemos dessa projeção eles não desenvolveriam um ser diferente, "independente" e até mesmo quem sabe melhor do que nós, os pais, e a a sociedade dita normal.
Como julgar o que é melhor para um ser cheio de potencialidades, gosto diversos, vida ardejante e principalmente...deferente de nós.
Será que simplesmente nos anestesiamos...predemos aquele viço, que naturalmente se perde, e por isso nos julgamos experiente e sabedores do mundo permitindo nos arvorar a dizer o que é melhor e o que é pior. As escolhas são infinitas...a liberdade tão perigosa e excitante!!!
Ou será realmente que a vida é simplesmente isso...esse mundinho nosso...tão ordinário? E estamos mais corretos com nossos pensamentos mais "vividos"??
Alguém consegue entender-me????

Cordiais saudações

Mi

domingo, 27 de setembro de 2009

Estou me sentindo tão fora de mim. Como é atordoante estar separada de mim. Como é aterrorisante sentir vazio. Sou sempre preenchida por sentimentos e agora não sei o que sentir. "O peso de sentir, o peso de ter que sentir" (Bernado Soares/Fernando Pessoa).
É duro ter o peito vazio, mas quero ser cruel agora. Preciso ser cruel. Necessito deixar de sentir para sentir de novo. Alias, já deixei de sentir a muito tempo.
Meu Deus me ajude com a incompreensão de mim e de ti.
Antes eu cheia de dor e agora vazia de sentimentos...a situação não mudou.
Medo de não ser...medo de não me tornar-me (reduntante assim mesmo)...ai como doi e como é maravilhoso/deslumbrante o vir-a-ser enterno. Oh Pai, rogo que eu não me canse nunca.
Sinto náuseas, fecho os olhos e meu corpo gira. Desejo voar despida de tudo até mesmo de asas...quem sabe assim seria apenas espírito! E contraditoriamente finco as barras da minha própria prisão.
Que necessidade de tentar proporcionar o bem estar alheio. Seria bondade ou apenas carência?

Cordiais saudações

Mi

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Das vantagens de ser bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo


Clarice Lispector